Fã da musa norte-americana Grace Kelly, Gétulia Agda queria que a filha levasse o nome da atriz. Mas na hora do registro em cartório, o marido, Júlio Hoffmann, se confundiu. “ Em vez do ‘r’, ele colocou ‘l’. "Mas podia ter colocado mais simples, né? Maria, Ana...”, conta, ao risos, a senadora de primeira viagem Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Nascida em 6 de setembro de 1965, em Curitiba, Gleisi vem chamando a atenção no novo Senado Federal. Dia sim dia também, a petista sobe à tribuna para defender o governo federal e confrontar a oposição. Novata no cenário político, ela admite ansiedade para mostrar resultado ao eleitorado, mas diz que, aos poucos, se “sente em Casa”. “Está uma loucura porque quero dar conta de tudo (...) Sinto que era isso que eu queria fazer quando chegasse aqui e estou feliz por estar aqui”, afirma.
Além da atuação política, Gleisi tem atraído olhares nos corredores do Senado também por outro motivo: a beleza física. No entanto, a paranaense de olhos claros, mãe de dois filhos e esposa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, rejeita o rótulo de musa do Senado e é enfática:
“Eu acho que é um equívoco. Eu não sou musa e nem me considero bonita. Eu sou uma mulher que se cuida, como tantas outras. Sou bem cuidada e, talvez, porque eu seja mais nova. Não fico incomodada, só não quero ser conhecida como isso”, afirma Gleisi.
Em entrevista ao iG, a senadora conta como administra a família com a nova rotina profissional, os cuidados com a beleza e as posições sobre temas polêmicos como aborto e o projeto de homofobia.
Confira:
iG- A senhora assumiu o mandato de senadora pela primeira vez neste ano. Como faz para conciliar a rotina pessoal com a profissional?
Gleisi Hoffmann - Como eu fazia antes: a gente vai levando...É impossível a gente dizer que consegue conciliar com tempo de qualidade. O que eu mais me ressinto é falta de tempo para os meus filhos (João Augusto e Gabriela Sofia). Por mais que eles tenham vindo morar comigo em Brasília, achei que fosse facilitar, mas não está acontecendo. Eu chego todo dia em casa depois das 21h30, 22 horas. Isso quando não tenho jantar de trabalho. O que eu tenho feito é levá-los à escola todos os dias e reservar os domingos para que fiquemos juntos. Não deixo marcar agenda de jeito nenhum.
iG- A senhora consegue cozinhar em casa para a família?
GH- De jeito nenhum. Eu mal consigo comer, quem dirá cozinhar, seria um luxo.
iG- Mas a senhora cozinhava no Paraná?
GH- Ajudava na cozinha, fazia sanduíches, saladas, mas não tenho mais conseguido. A gente chega tão cansada e para o trabalho aqui no Senado, mas precisa continuar informada. Precisa ler blogs, e-mails, jornal, enfim, saber o que está acontecendo. É uma casa política.
iG- A senhora é casada com o ministro Paulo Bernardo. O tema política entra em casa ou é proibido, só pode na hora do trabalho?
GH- É o tema preponderante. Não tem jeito. Dizer que proíbe, não, conversa sobre outros temas, mas é o preponderante. É a nossa vida. Ficaria até falso a gente falar de outros assuntos: é política e os filhos.
iG- Mas os filhos reclamam?
GH- Às vezes reclamam, mas também dão palpite, opinião. Vai lá, assiste TV com eles e (a gente) conversa nos intervalos dos filmes sobre política..
iG- E eles?
GH- Reclamam, falam ‘chega, agora não quero falar disso’ (risos) Por isso estou dizendo. Não tem jeito. Quando você quer ter resultado naquilo que você faz, alguma coisa fica sacrificada.
iG- A senhora é uma mulher muito bonita. Como a senhora cuida da beleza? Trouxe profissionais do Paraná?
GH- Eu adoraria ter alguém especial e o muito bonita é por sua conta. Eu procuro me cuidar. No Paraná, era mais fácil. Até porque já tinha minha rede de cuidados- médicos e dermatologistas- e aqui estou descobrindo os profissionais. Faço teste de manicure, cabeleireiro, para ver se me adequo. Não que seja questão preponderante, mas obviamente você precisa ter uma boa apresentação. Eu represento meu Estado e não posso vir aqui de qualquer jeito. Às vezes eu penso: que inveja dos homens, eles passam um gel e está bom, gravata e estão elegantes. Você não. Tem dias que seu cabelo está ruim e não é qualquer roupa que dá. Cabelo emoldura o rosto, não dá tempo de você ir ao cabeleireiro...e aí sua assessoria não considera isso e marca agenda a partir das 8h30 da manhã e vai até 22 horas da noite. Eu fico: ‘Gente, preciso fazer o cabelo, presta atenção! (risos)
iG- Quais outros cuidados a senhora tem?
GH- Faço meditação. Eu fazia todos os dias, mas agora estou em período de adaptação aqui no trabalho e estou retomando aos poucos. Acordo seis horas da manhã, faço uma leitura de meditação - que é silêncio e limpar a mente - e aí começo a ler os jornais, o clipping do dia.
iG- O ministro faz meditação também?
GH- Não, o ministro não medita não. Ele vai logo para os jornais e aí fica: Olha, tem uma matéria interessante aqui. Depois, ele vai ao Twitter e dá bom dia a todos.
iG- A deputada Manuela D’Avila já declarou que se incomoda com o título de “musa” da Câmara dos Deputados. A senhora se incomoda com o título de ‘’musa do Senado?’’
GH- Só acho que é um equívoco. Eu não sou musa e não me considero bonita. Eu sou uma mulher que se cuida como tantas outras.
iG: A senhora não se considera bonita?
GH- Eu sou bem cuidada. Talvez porque eu seja mais nova. Eu não fico incomodada, mas também não quero que as pessoas fiquem falando isso. Não quero ser conhecida como isso.
iG: Mas existe algum problema em aliar beleza à competência?
GH- Não tenho problema nenhum com isso, não me afeta, mas isso não está preponderando. As pessoas me olham de maneira diferente aqui no Senado, como uma pessoa que tem idéias, que está atuando, não sinto isso aqui dentro. É que tem esta mania de tachar a mulher, né? Se você vem para o mundo da política ou você é a bonitinha, histérica, a quieta ou a boba. É um pouco assim que as pessoas costumam fazer o estereótipo da mulher. O espaço público não sabe trabalhar muito com a presença das mulheres. Vai começar a aprender agora.
iG- Senadora, estas últimas semanas foram marcadas pelas declarações consideradas preconceituosas do deputado Jair Bolsonaro ( PP-RJ) a um programa de TV. Aqui no Senado existe um projeto da senadora Marta Suplicy (PT-SP) contra a homofobia. Qual a opinião da senhora sobre o projeto?
GH- É um projeto muito polêmico. Do jeito que está não será aprovado e requer alterações. Eu sou a favor de combater a homofobia. Não podemos ter tolerância com preconceito e discriminação. Mas ele é um projeto que está jogando para um extremo. Então, o projeto considera crime, por exemplo, o posicionamento de pastores e padres dentro das missas. Precisamos compreender que a sociedade é estruturada em determinados valores e não vamos mudar isso de uma hora para a outra. Precisamos respeitar a opinião de todos - desde que esta opinião não cause nenhuma violência. Não dá para gente sair e achar que um pastor que tem por valores religiosos posição contrária à questão da homossexualidade seja considerado criminoso. É colocar no mesmo balaio situações diferentes e deixar de ter foco naquelas pessoas que realmente demonstram intolerância nas ruas como fez o Bolsonaro.
iG- Qual a posição a respeito da descriminalização do aborto?
GH- Eu sou contra a descriminalização do aborto, nunca aprovei. Acho que ela não vai resolver a questão e o drama das mulheres, mas acho que a maioria que faz aborto clandestino vai continuar fazendo. É uma questão de valor interno, referência religiosa e que faz no desespero. O meu medo é que a legalização do aborto possa se tornar um método contraceptivo para um determinado setor da sociedade. Penso em políticas públicas mais ousadas para as mulheres. Do jeito que está a legislação não está levando ninguém para a cadeia. Mexer nisso é mexer com valores profundos da sociedade.
iG- Como a senhora avalia sua atuação neste primeiro momento no Senado?
GH- Uma loucura porque tento dar conta de um monte de coisa e quero fazer as coisas acontecerem. A gente entra com ansiedade, tem muita expectativa e quer mostrar resultado. Procuro entregar o compromisso. Avalio que está sendo bastante trabalhado, com muita atividade, eu deixo enlouquecidos todos os assessores, mas sinto que era isso que eu queria e estou bem feliz. Estou gostando muito da experiência e me sinto muito bem aqui.
iG- A senhora tem planos para 2012 no Paraná?
GH- Não. Não serei candidata à prefeita. Tenho compromisso com o Estado.
iG- Mas e depois, mais para frente?
GH- Estou no mundo da política. (Penso que) Fazer uma guinada e depois de oito anos no Senado ir para iniciativa privada e cuidar da casa não acho justo com o contribuinte que investiu em mim. Eu sou uma privilegiada, estou me formando. Outro dia estava na CAE (Comissão de Assuntos Estratégicos) ouvindo o presidente do Banco Central falar. Isso é muito legal. Quem consegue ter uma palestra do presidente do BC falando sobre economia? Isso é um investimento em mim pago pelas pessoas. Eu ganho salário para isso e preciso usar isso em benefício das pessoas. Claro que preciso consultar o partido e o próprio eleitorado, mas eu gostaria de usar estes conhecimentos em outras experiências. Pode ser uma prefeitura lá na frente, governo de Estado. Mas não agora.
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