48 milhões escalam a pirâmide
Autor(es): ULLISSES CAMPBELL
Do Correio Braziliense – 28/06/2011
Segundo a FGV, em oito anos, milhões de brasileiros migraram para as classes A, B e C. Brasília é a sexta cidade com mais rico
Estudo mostra que só no Brasil economia cresce com redução das desigualdades sociais
São Paulo — Uma pesquisa inédita divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que pelo menos 48,7 milhões de brasileiros emergiram da base da pirâmide social e passaram a respirar ares das classes A, B e C nos últimos oito anos. O estudo abrange os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os cinco primeiros meses da gestão da sua sucessora, Dilma Rousseff. Somente na classe C, na qual, para entrar, é preciso ganhar entre R$ 1.200 e R$ 5.174 mensais, aportaram 39,5 milhões de brasileiros no período, representando um aumento de 46,57% nesse contingente.
“O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas geradas num ano) e a estabilidade da economia são os dois maiores fatores que fizeram as classes mais altas engordarem”, avaliou o professor Marcelo Neri, coordenador da pesquisa Os emergentes dos emergentes. Com o aumento das parcelas de maior renda, ocorreu uma redução de 54,18% nas classes da base da pirâmide. Ao detalhar o encolhimento da população carente, o estudo revelou que houve uma queda de 15,9% na pobreza nos dois últimos anos. “Os benefícios sociais do governo foram o que mais resgatou brasileiros da pobreza.”
Da classe D saíram 7,9 milhões de brasileiros em 8 anos, aportando em um lugar mais alto da classificação do brasileiro por ganhos salariais (veja quadro abaixo). O brasiliense Leandro Guarda, 28 anos, é um exemplo perfeito de ascensão social. Em 2003, ele trabalhava no Ministério da Fazenda e ganhava R$ 260. Oito anos depois, ele fez um concurso público, tornou-se procurador federal e conseguiu multiplicar seus rendimentos mensais por 65. Hoje, uma camisa que ele compra numa loja de marca chega a custar mais do que todo o salário que recebia há 8 anos.
“Já fui à França, aos Estados Unidos e à Argentina”, contou Leandro, ao relacionar o que faz, agora que pertence à classe A. Uma das mudanças mais significantes na vida do procurador foi ter saído de Samambaia direto para a Asa Sul. Nos dois rankings feitos pelo estudo apontando as cidades que mais concentram ricos, Brasília está bem colocada. Entre as capitais, é a quarta que mais abriga habitantes nas classes A, B e C. Entre todas as cidades, é a sexta. Segundo a pesquisa, 24,3% dos moradores da capital federal estão nas classes mais altas da pirâmide social.
Na avaliação de Marcelo Neri, quem mora na capital do país acaba subindo na vida por causa da tradição dos concursos públicos. “Em geral, o brasiliense não é um povo empreendedor”, definiu. A empresária Márcia Mendes, 31 anos, discorda do professor da FGV. Ela usa o seu exemplo pessoal para mostrar que o brasiliense tem vocação para o empreendedorismo. Em 2003, Márcia era servidora do Governo do Distrito Federal e ganhava R$ 1,1 mil, ou seja, estava na classe D. No ano seguinte, montou uma escola pequena para dar aulas de idiomas e hoje mantém seis unidades de médio porte espalhadas por cidades do DF. No ano que vem, vai abrir a sétima em Formosa (GO). No fim do mês, seus rendimentos chegam a R$ 25 mil.
Educação – “Tenho ainda duas lojas de roupas femininas que herdei da minha mãe”, disse Márcia. Para Marcelo Neri, além do crescimento da renda e da queda da desigualdade, a educação é apontada como outro fator que colabora para o aumento da classe C. “A nossa pesquisa mostra que, só pelo efeito da educação, se tudo se mantiver constante, a renda do brasileiro cresceria 2,2 pontos percentuais por ano, o que já seria bastante”, ressaltou. Outra conclusão do professor: dos países emergentes, apenas o Brasil registra crescimento econômico acompanhado de redução das desigualdades sociais. “Em uma década, a renda real per capita dos mais ricos no Brasil cresceu 10%, enquanto a dos mais pobres aumentou 68%.”
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